POR RODRIGO HENRIQUE
Pomba de asas abertas envolvida em luz dourada. Representação do batismo com o Espírito Santo e com fogo.
No livro de Atos, encontramos um relato essencial sobre o papel do Espírito Santo na vida dos crentes, especialmente no que diz respeito ao batismo no Espírito. Este evento marcante, descrito por Lucas, desempenha um papel crucial na capacitação dos discípulos para a missão que lhes foi confiada por Jesus.

Neste artigo, examinaremos cuidadosamente o significado, o propósito e as evidências do batismo no Espírito Santo, à luz das Escrituras e da tradição cristã.

TEXTO BASE


Atos 1.4-8

4 E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. 5 Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. 6 Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? 7 E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. 8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.

O ESPÍRITO SANTO


Cremos no Espírito Santo como a terceira pessoa da Santíssima Trindade, e portanto, é Deus tal como o Pai e também o Filho. A Bíblia nos mostra o Espírito atuante desde o princípio, se movendo sobre as águas na criação do Universo (Gn 1.1,2).

Observamos, por exemplo, que o Espírito de Deus atua de três maneiras na vida do ser humano. Veja abaixo uma síntese explicativa:

a) Por nós - Contendendo conosco e nos convencendo do pecado, da justiça e do juízo (Gn 6.3; Jo 16.8-11); 
b) Em nós - Nos regenerando e livrando da lei do pecado e da morte e também produzindo seu fruto em nós (Rm 8.2; Gl 5.22-25); e
c) Através de nós - Nos usando como instrumentos de bênçãos por meio dos seus dons e nos capacitando a testemunhar de Jesus (I Co 12.7-11; At 1.8).

Neste sentido, iremos focar na forma pela qual o Espírito Santo atua através de nós, nos revestindo do seu maravilhoso poder.

O QUE É BATISMO NO ESPÍRITO SANTO?


É comum que muitos tenham dúvidas acerca de tal doutrina e, sendo assim, é importante analisarmos o que é o batismo no Espírito Santo. Vejamos:

Doutrina Bíblica. Em primeiro lugar, faz-se necessário destacar que o batismo no Espírito Santo é uma doutrina bíblica. Não é fruto da mente humana, mas da Palavra de Deus. Não é, portanto, nenhuma invenção de denominação ou de determinada linha teológica, mas um ensinamento consolidado desde o Antigo Testamento (AT) com cumprimento no Novo (NT).

Promessa do Pai. Em segundo lugar, o batismo no Espírito Santo é uma promessa do Pai distinta da salvação. Em Atos 1.4 Jesus se referiu a este evento como a "promessa do Pai", e isto porque Deus já havia feito tal promessa por meio dos profetas Isaías, Joel e Zacarias, por exemplo.

Ainda que alguns queiram ensinar que todo cristão é batizado no Espírito no momento da conversão, destacamos que não é isso o que a Palavra nos ensina. Os apóstolos de Jesus já eram salvos e mesmo assim ainda não haviam sido revestidos de poder, embora já haviam recebido o Espírito Santo que habitava neles.

Os evangelhos destacam que eles já estavam limpos (Jo 15.3), tinham seus nomes escritos nos céus (Lc 10.20) e já haviam, inclusive, recebido o Espírito Santo após a ressurreição de Jesus (Jo 20.22). No entanto, eles só receberam o batismo no Espírito no dia de pentecostes, conforme registrado em Atos.

Em Éfeso também haviam alguns discípulos que já haviam crido, mas que ainda não haviam sido batizados no Espírito Santo (cf. At 19.1-6). Tudo isso nos mostra que salvação e batismo no Espírito são coisas distintas.

Dom de Deus. Pedro disse que esse revestimento de poder é um dom de Deus (At 2.38), isto é, um presente, uma dádiva do céu. Ora, sabemos que todo presente que Deus nos concede é bom e proveitoso, porém, qual é o seu propósito?

QUAL É O OBJETIVO DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO?


Talvez a melhor palavra que descreva esse objetivo seja "capacitação". O batismo no Espírito Santo (ou revestimento de poder) nos torna aptos a:

Testemunhar. Isso significa receber poder para falar a respeito do que viu, ouviu e/ou conhece a respeito do Senhor Jesus. A palavra utilizada no original em grego para "testemunhas" é "martyres", ou seja, testemunha é aquela pessoa que está disposta a proclamar Jesus mesmo diante da morte.

Antes de ser batizado no Espírito, o apóstolo Pedro disse a Jesus que -- caso fosse necessário -- morreria por ele (Lc 22.33), no entanto, temos conhecimento que no momento oportuno Pedro negou a Jesus por três vezes.

Após a ressurreição, Jesus também questionou a Pedro três vezes quanto ao seu amor, ao passo que Pedro reconheceu não amar a Jesus a ponto de entregar a própria vida. Jesus, então, lhe disse que ele seria estendido, "e disse isso significando com que morte havia ele de glorificar a Deus" - João 21.19

Neste sentido, após ser revestido de poder no dia de Pentecostes, Pedro se tornou apto a testemunhar de Jesus mesmo diante da morte. De fato, sabemos que Pedro fora preso e condenado à morte por causa do Evangelho, tendo sido -- segundo a tradição cristã -- crucificado como um mártir de cabeça para baixo.

Agir ao Invés de Especular. Os discípulos estavam especulando a respeito do momento em que o reino em Israel seria restaurado (At 1.7), o que sabemos que ocorrerá no período do milênio. Jesus lhes respondeu que não era da competência deles saber os tempos ou estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder, mas eles receberiam a virtude (poder) do Espírito Santo não muito depois daqueles dias.

Com isso, nosso Senhor estava ensinando que eles foram chamados para agir ao invés de especular. Nós também fomos chamados a realizar a obra de Deus, e não para discuti-la. Muitos crentes passam horas e horas debatendo na internet, mas pouco ou nada fazem em favor da obra de Deus.

O revestimento de poder nos é dado para executarmos a obra, para deixarmos a especulação de lado e passarmos ao que é, de fato, mais urgente: A pregação do Evangelho de Jesus!

Quebrar Barreiras. É sabido que os judeus não se davam bem com os samaritanos, e vice-versa. Quando passou por Samaria e seus cidadãos não receberam a Jesus, João e Tiago queriam orar a Deus para que fogo consumidor viesse dos céus e os devorasse (Lc 9.54).

Porém, após terem sido revestidos do poder do Espírito Santo, as barreiras culturais, sociais e religiosas foram quebradas. A virtude do céu tinha por finalidade os conduzir a testemunhar de Jesus, inclusive, em Samaria e até aos confins da terra (At 1.8).

Tempos depois, João e Pedro se dirigiram aos samaritanos. Nesta ocasião João já não deseja orar para que Deus envie fogo consumidor, mas para que envie fogo santo do céu para que aqueles samaritanos também fossem revestidos do mesmo poder que eles haviam outrora recebido (cf. At 8.14,15).

Em síntese, o batismo no Espírito Santo nos capacita a: i) Testemunhar mesmo diante da possibilidade da morte; ii) Agir ao invés de especular; e iii) Quebrar as barreiras sociais, culturais e religiosas a fim de propagarmos o Reino de Deus.

O REVESTIMENTO DE PODER É PARA QUEM?


Observamos que no AT o Espírito era dado sob medida a determinadas pessoas escolhidas por Deus a fim de executarem uma missão: Reis, juízes, sacerdotes e profetas, por exemplo. Neste sentido podemos citar alguns como Moisés, Gideão, Sansão, Saul, Davi e Samuel.

No entanto, ainda no AT, Deus já havia prometido que chegaria o tempo em que o Espírito Santo seria derramado sobre toda a carne (Jl 2.28,29), isto é, sem distinção entre reis e servos, ricos e pobres, cultos e indoutos, homens e mulheres ou mesmo judeus e gentios.

Desta maneira podemos afirmar que o revestimento de poder é para todo cristão verdadeiro e está, portanto, à sua disposição. Não é um presente destinado apenas aos líderes, é também para os diáconos tais como Estevão e Filipe. Não é exclusividade dos judeus, também diz respeito aos gentios como Cornélio.

"Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar" - Atos 2.39

O QUE FAZER PARA RECEBER?


Para ser batizado no Espírito Santo se faz necessário crer em Jesus, porquanto é ele quem nos batiza com o Espírito Santo e com fogo. Além disso, é preciso pedir tal bênção em oração, porque o que pede recebe, o que procura acha e àquele que bate, a porta se abre. A água é derramada sobre o sedento!

Encontramos, também, alguns requisitos no livro do profeta Joel (cap. 2.12,13), de modo que se quisermos receber a virtude do céu é preciso voltarmo-nos a Deus a fim de desenvolvermos um relacionamento pessoal com ele. É ir em direção a Deus, e não aos benefícios que ele pode nos conceder.

Trata-se de uma busca com profundidade, é de todo o coração. É necessário haver sinceridade, e não apenas uma busca externa e infrutífera. Envolve rasgar o coração, e não as nossas vestes. Além disso, trata-se de uma busca diligente: "e isso com jejuns, com pranto e com choro", ou seja, com lamento e arrependimento pelo pecado.

"E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne..." - Joel 2.28

QUANDO BUSCAR ESSA BÊNÇÃO?


Agora mesmo, neste exato momento. "Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto" (Jl 2.12). É preciso buscar ao Senhor enquanto se pode achar, e invocá-lo enquanto ele está perto.

Hoje mesmo Jesus pode lhe batizar no Espírito Santo! Não deixe para buscar o dom de Deus amanhã, o agora é o tempo oportuno. Deste modo, se hoje ouvirdes a voz do Senhor, teu Deus, não endureçais os vossos corações.

COMO SABER SE FUI BATIZADO?


O batismo no Espírito Santo é uma experiência concreta. Quem é batizado sabe que foi batizado. Porém, se é assim, qual é a evidência (ou evidências) que acompanham o derramar do Santo Espírito? Ora, sabemos que o pentecostalismo clássico ensina que o sinal inicial é o falar em línguas, todavia, este não é o único sinal encontrado nas Escrituras. Vejamos abaixo alguns deles!

Em primeiro lugar, nos diz a Palavra que no dia de Pentecostes os discípulos estavam reunidos quando ouviram um som como de um vento veemente e impetuoso; também viram línguas repartidas como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. Além disso, começaram a falar em outras línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (At 2.1-4).

Não podemos deixar de destacar que também houve pregação ousada da parte de Pedro, alcançando quase três mil almas para Cristo em um único dia (At 2.41).

Em segundo lugar, numa outra ocasião, depois de terem orado, o ambiente em que estavam tremeu (como que em um terremoto) e todos foram cheios do Espírito Santo. O resultado foi que começaram a anunciar com grande ousadia e intrepidez a Palavra do Senhor (At 4.31).

Em terceiro lugar, em Samaria havia um homem chamado Simão que viu que, pela imposição das mãos de Pedro e João, era dado o Espírito Santo. O texto bíblico não menciona qual foi a evidência, mas sabemos que ela pôde ser vista de forma concreta, porquanto Simão mesmo o presenciara e quisera comprar esse mesmo poder por uma quantia em dinheiro (At 8.14-25).

Em quarto lugar, em relação a Saulo (também chamado Paulo), a Bíblia descreve que Ananias impôs-lhe as mãos e assim caíram dos seus olhos -- porque estava cego -- como que umas escamas, e recuperou a vista; e levantando-se, foi batizado (At 9.17,18).

Muito embora o texto não diga qual foi o sinal que evidenciara o enchimento de Saulo no Espírito Santo, podemos concluir que também foi uma experiência concreta, porquanto o texto diz claramente que ele foi batizado enquanto estava se levantando, ou seja, enquanto se levantava, algo aconteceu de modo que tanto ele quanto Ananias puderam saber que o batismo havia acontecido.

Como Saulo (nome judeu) declarou em uma de suas epístolas que ele falava em línguas, talvez este também tenha sido o sinal que evidenciara o seu batismo (cf. I Co 14.18).

Em quinto lugar, quando olhamos para o gentio Cornélio e os que estavam com ele, a Escritura afirma que Pedro ainda estava lhes pregando a Palavra quando o Espírito Santo caiu sobre eles. A evidência, naquela ocasião, foi o falar em línguas e o magnificar, ou seja, exaltar, engrandecer e proclamar a Deus (At 10.44-48).

Em sexto lugar, na cidade de Éfeso, em relação aos discípulos que ainda nem haviam ouvido falar do Espírito Santo, Paulo lhes pregara a Palavra e, orando sobre eles com imposição das mãos, veio sobre eles o Espírito de Deus e logo começaram a falar em outras línguas e a profetizar (At 19.1-6).

Em sétimo lugar, a profecia de Joel citada pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecostes menciona ainda outros sinais, a saber, i) profecias; ii) visões; iii) sonhos proféticos; e iv) prodígios no céu e sinais na terra (cf. At 2.17-21).

Ao analisarmos tais passagens concluímos o seguinte acerca das evidências do batismo no Espírito Santo:

  • O Falar em Línguas esteve presente de forma expressa em três ocasiões, a saber, no dia de Pentecostes, na casa de Cornélio e na cidade de Éfeso. Além disso, o falar em línguas também pôde ter sido o sinal evidenciado no batismo de Paulo (nome romano);
  • As Profecias estiveram presentes de forma expressa em ao menos uma ocasião, a saber, na cidade de Éfeso. Além disso, a profecia é mencionada em Joel como uma das evidências (ou resultado concreto) do derramar do Espírito Santo; também foi citada por Pedro no dia de Pentecostes;
  • A Pregação Ousada da Palavra esteve presente de forma expressa em três ocasiões, a saber, no dia de Pentecostes, no dia em que o ambiente tremeu, e também na casa de Cornélio. Além disso, a pregação constitui o principal objetivo do enchimento no Espírito Santo, conforme Jesus ("e ser-me-eis testemunhas");
  • Os Prodígios nos Céus estiveram presente de forma expressa em ao menos uma ocasião, a saber, no dia de Pentecostes -- com um som veemente e línguas repartidas como que de fogo que vieram do céu. Além disso, os prodígios no céus são mencionados em Joel como um dos resultados concretos do derramar do Espírito Santo;
  • Os Sinais na Terra estiveram presentes de forma expressa em ao menos uma ocasião, a saber, no dia em que o ambiente tremeu como que em um terremoto. Além disso, os sinais na terra são mencionados em Joel como um dos resultados concretos do derramar do Espírito Santo; também foi citado por Pedro no dia de Pentecostes; e
  • As Visões e Sonhos Proféticos não estiveram presentes de forma expressa em nenhuma das ocasiões narradas em Atos, no entanto, foram citadas por Pedro no dia de Pentecostes ao fazer menção da profecia de Joel.

É fundamental sempre termos em mente os propósitos desse revestimento de poder. Somos batizados no Espírito para testemunharmos de Jesus, e não para permanecermos inertes. Reflita: Se você é batizado no Espírito, tem cumprido com o propósito deste batismo?

CONCLUSÃO


À luz das Escrituras e dos fatos registrados nos Evangelhos e em Atos, compreendemos que o batismo no Espírito Santo é uma realidade viva para os crentes hoje. Este evento transcende as fronteiras temporais e culturais, capacitando os seguidores de Jesus a testemunhar ousadamente, a agir com poder e a quebrar barreiras em nome do Evangelho.

Ao buscar essa bênção, é crucial lembrar-se dos requisitos de sincero arrependimento, fé e busca diligente de uma experiência profunda com Deus. Portanto, encorajamos a todos os crentes a buscarem o batismo no Espírito Santo, a fim de viverem plenamente no poder e na autoridade que Deus concedeu para proclamar o Reino e glorificar seu nome em toda a Terra.

Christo Nihil Praeponere - “A nada dar mais valor que a Cristo”

POR RODRIGO HENRIQUE
Caim e Abel brigam em um campo. Nas mãos, paus e pedras.
A narrativa bíblica de Caim e Abel, registrada em Gênesis cap. 4, apresenta o relato do primeiro homicídio praticado na história da humanidade, destacando os desdobramentos trágicos resultantes da inveja e do ódio.

O texto revela não apenas a ação nefasta de Caim, mas também a interação divina diante desse ato hediondo. Deus disse a Caim que a voz do sangue de Abel era notória, no entanto, há um contraponto crucial encontrado em Jesus Cristo, o qual é ressaltado em Hebreus 12.24, oferecendo-nos uma perspectiva de um sangue que clama por coisas melhores.

TEXTO BASE


Gênesis 4.8-10,16

⁸ E falou Caim com o seu irmão Abel: Vamos ao campo. E sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou. ⁹ E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? ¹⁰ E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra [...] ¹⁶ E saiu Caim de diante da face do Senhor e habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden.

Hebreus 12.24

²⁴ E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.

CAIM MATA ABEL


Após ter sua oferta rejeitada por Deus (clique aqui para ler), Caim chamou seu irmão para irem juntos ao campo. "E sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou," tornando-se, assim, o primeiro homicida da história.

O coração de Caim já pertencia ao maligno e suas obras eram más e injustas diante de Deus (I Jo 3.12). Eis o perigo dos sentimentos perigosos que transpiram dentro da própria família: Movido pelo ciúme e pelo ódio, Caim matou Abel de forma deliberada e sem provocação.

DEUS AGE COM GRAÇA


Diante de tal circunstância, "disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão?" Ora, Deus estava, em verdade, oferecendo a Caim uma oportunidade para arrependimento e confissão. Observe o leitor(a) que Caim não buscou a Deus, mas Deus buscou a Caim. É o Senhor quem deu -- e sempre dá -- o primeiro passo em direção ao pecador.

Em face do questionamento divino, Caim poderia ter confessado seu pecado ao Senhor a fim de alcançar misericórdia, pois "quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia" - Provérbios 28.13

No entanto, Caim decidiu -- inutilmente -- encobrir sua conduta. Digo "inutilmente" porque o Senhor é o Deus que vê (El Roi) a tudo e a todos. Não há nada que esteja oculto diante daquele que tem os olhos como chamas de fogo. Ele conhece nossas obras, pensamentos e omissões!

CAIM REJEITA A OPORTUNIDADE


Não bastasse o encobrimento do homicídio, Caim cometeu outro pecado ao mentir para Deus, afirmando nada saber sobre o paradeiro do irmão. Sua atitude é irreverente e evidentemente não há qualquer temor em suas palavras. Provavelmente pensava que Deus fosse como um homem comum e ignorava, ao que tudo indica, sua onisciência.

Diferentemente de seu pai Adão, Caim escondeu seu pecado, mas logo descobriu que aquele que assim o faz não prospera diante de Deus. O Senhor, porém, demonstrou que é conhecedor de tudo e que a voz do sangue de Abel clamava a ele desde a terra. Não há máscaras que fiquem de pé em face do Rei da Glória!

A VOZ DO SANGUE QUE CLAMA 


Tal detalhe muitas vezes passa despercebido a muitos dos leitores e muitos dos que o percebem não o compreendem. Afinal, como é possível que o sangue clame a Deus? E o que fala sua voz? Pois bem, isso é o que iremos analisar.

Abel era um homem inocente. Nada havia feito que justificasse as obras más de Caim, mas este injustamente o matou, derramando sangue inocente sobre a terra. Sangue que, naquele mesmo instante, passou a clamar a Deus por justiça, isto é, por vingança.

Importa ressaltar que a palavra vingança tem um sentido um tanto desconfortável na mentalidade popular brasileira, mas seu significado em hebraico refere-se à justa retribuição pelo mal praticado, ou seja, a aplicação da justiça ou punição merecida.

A título de exemplo, vejamos o que disse o profeta Zacarias em suas últimas palavras antes de morrer: "O rei Joás não levou em conta que Joiada, pai de Zacarias, tinha sido bondoso com ele, e matou o seu filho. Este, ao morrer, exclamou: Veja isto o Senhor e faça justiça!" - II Crônicas 24.22

Zacarias era filho do sacerdote Joiada e pertencia a tribo de Levi. Era profeta de Deus e conhecia a Palavra do Senhor. Certamente, ao proferir suas últimas palavras, tinha em mente o que Deus havia dito por meio de seu servo Moisés: "Minha é a vingança e a recompensa [...]" - Deuteronômio 32.35

Outro texto interessante é o de Apocalipse que também nos é bastante esclarecedor acerca do tema: Aqueles mártires "clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?"  - Apocalipse 6.10

Neste sentido, ao olharmos para Abel, entendemos que ele representa o primeiro de uma longa lista de fiéis que morrem e clamam por vingança diante de Deus. O sangue dos inocentes clama com grande voz em face da injustiça com que foram mortos. Porém, o sangue de Jesus fala melhor que o deles!

O SANGUE QUE CLAMA COISAS MELHORES


Lembremo-nos, por exemplo, de algumas das palavras de Jesus na cruz do Calvário. Ao olhar para seus assassinos, o Senhor não clamou por vingança, mas por perdão: "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" - Lucas 23.33,34

Diante disso, o sangue do Messias fala melhor, ou seja, clama por coisas melhores (Hb 12.24). Muitos dos chamados "pais da igreja", tais como Tertuliano, Orígenes, João Crisóstomo, Agostinho de Hipona e muitos outros entendiam que o sangue de Jesus falou melhor que o de Abel porquanto clamou por perdão e misericórdia, e não por vingança.

O sangue da aspersão, conforme Matthew Henry,

"diz coisas melhores do que o de Abel. Em primeiro lugar, ele fala (clama) a Deus a favor dos pecadores; pleiteia não por vingança, como fez o sangue de Abel contra aquele que o derramou, mas por misericórdia. Em segundo lugar; aos pecadores, em nome de Deus; declara o perdão dos seus pecados, e traz paz à alma deles; e recomenda a mais estrita obediência deles e o seu mais profundo amor e gratidão".¹

Apenas a título de exemplo, vejamos alguns dos muitos benefícios que este sangue nos traz: Redenção (Ef 1.7), purificação (Ap 1.5), justificação (Rm 5.9), reconciliação (Cl 1.20), aproximação de Deus (Ef 2.13), libertação (I Pe 1.18,19), santificação (Hb 13.12) e vitória (Ap 12.11).

Não obstante, porém, Jesus considerou que a voz do sangue dos justos não poderia simplesmente ser ignorada. Ao dirigir-se a um grupo de hipócritas fariseus, nosso Senhor viria a mencionar tanto Abel quanto Zacarias, dizendo o seguinte:

"Ai de vós que edificais os sepulcros dos profetas, e vossos pais os mataram! Bem testificais, pois, que consentis nas obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros. Por isso, diz também a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns e perseguirão outros; para que desta geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo, será  requerido desta geração" - Lucas 11.47-51

Ao comentar esta passagem, Hernandes Dias Lopes observa em Lucas 11.53,54 que "mesmo sendo Jesus o pregador, e mesmo pregando com tamanha contundência e poder, seus ouvintes não se quebrantaram; antes, endureceram-se e se enfureceram [...] Os escribas e fariseus saíram dali não para mudar de vida, mas para tramar contra a vida de Jesus".²

Estes pecadores poderiam, diante da pregação de Jesus, cair em arrependimento. Se o fizessem, a voz do sangue de Jesus falaria mais alto, concedendo-lhes coisas melhores (Jr 18.7,8) tal como recebeu Saulo (também chamado Paulo), que mesmo sendo um perseguidor da Igreja de Cristo, alcançou o perdão da parte do Senhor.

Oh quão sublime é a graça de Deus! Perdoa até mesmo os perseguidores e homicidas arrependidos. Aqueles hipócritas, porém, não abraçaram o arrependimento e escolheram seguir pelo caminho de Caim; e assim, a justa retribuição lhes fora dada (clique aqui para ler).

CONCLUSÃO


A história de Caim e Abel, embora marcada pela tragédia e pelo pecado, não é apenas um relato do passado, mas uma lição atemporal sobre as consequências da inveja, do ódio e da falta de arrependimento.

Por meio da análise desses textos, somos confrontados com a realidade do pecado e da justiça divina, mas também somos lembrados do incomparável poder do sangue de Jesus Cristo, que clama por perdão e misericórdia, oferecendo redenção e esperança para todos os que o recebem.

Que possamos, portanto, aprender com as lições da Palavra e buscar viver em conformidade com a vontade de Deus, encontrando no sacrifício de Cristo a verdadeira reconciliação e paz. A graça de Deus é maior que o pecado de homicídio, e o sangue da aspersão sempre falará mais alto na vida daqueles que crêem no sacrifício vicário de Cristo Jesus.

Christo Nihil Praeponere - “A nada dar mais valor que a Cristo”

FONTE


¹ HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento - Atos a Apocalipse. Edição Completa, CPAD, vol. 6, 2020, p. 816. 

² LOPES, Hernandes Dias. Lucas - Jesus, o Homem Perfeito. São Paulo: Hagnos, 2017, p. 377.

BÍBLIA de Estudo Cronológica. CPAD, 2021.

BÍBLIA de Estudo Thomas Nelson. São Paulo: Thomas Nelson, 1º ed., 2021.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento - Gênesis a Deuteronômio. Edição Completa, CPAD, vol. 1, 2020.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento - Atos a Apocalipse. Edição Completa, CPAD, vol. 6, 2020. 

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis - O Livro das Origens. Hagnos, 2021.

LOPES, Hernandes Dias. Lucas - Jesus, o Homem Perfeito. São Paulo: Hagnos, 2017

POR 

O QUE A PÁSCOA TEM A VER COM O GÊNESIS?

É seguro dizer que os eventos registrados em Gênesis são a base sobre a qual todo o evangelho é construído.

Isso é exatamente o que vemos quando olhamos para a Páscoa. Tudo o que Jesus fez durante aquela semana foi feito para restaurar o relacionamento que Adão perdeu no início dos tempos. Aqui estão três maneiras importantes pelas quais Gênesis está vinculado à morte e ressurreição de Jesus:

 POR RODRIGO HENRIQUE

É comum que as pessoas tenham dúvidas acerca dos fatos narrados pela Bíblia. Porém, desde logo afirmamos que não há embasamento algum para crermos na existência de pessoas pré-adâmicas, muito pelo contrário. A Palavra de Deus nos afirma que Eva foi a mãe de todos os viventes, sem exceção: "E chamou Adão o nome de sua mulher Eva; porquanto era a mãe de todos os viventes" - Gênesis 3.20

POR RODRIGO HENRIQUE
Caim, com expressão de raiva, e Abel com as mãos erguidas aos céus.
"E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante" - Gênesis 4.4-5

  POR RODRIGO HENRIQUE

SERMÃO - DEUS E O PECADOR


"Deus e o Pecador" é um sermão que tem por finalidade apontar não apenas o pecado e suas consequências, mas busca apresentar, também, a maravilhosa graça e misericórdia de Deus. Neste propósito a mensagem se dividirá em cinco (5) tópicos didáticos, a saber: I - A Tentação; II - A Culpa; III - A Separação; IV - A Busca Pelo Pecador; e V - A Restauração.

POR RODRIGO HENRIQUE
Adão e Eva vestidos com peles de animais caminham juntos com semblante triste.
No relato do Livro de Gênesis encontramos a narrativa acerca da Queda da humanidade, ocasionada pela desobediência de Adão e Eva ao mandamento divino. Através da análise do texto bíblico podemos compreender melhor as consequências imediatas e mediatas deste ato pecaminoso.

Neste artigo iremos explorar as implicações da desobediência inicial desde a tentação por parte da serpente até a expulsão do Jardim do Éden, destacando a importância do perdão e da restauração divina na vida do pecador.

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