COMO O PECADO CORROMPEU A IMAGEM DE DEUS EM NÓS?
POR RODRIGO HENRIQUE
No livro de Gênesis vemos o relato da criação de Adão e Eva, o primeiro casal, "à imagem e semelhança de Deus". No entanto, o relato bíblico também nos apresenta A Queda trágica do ser humano, o que negativamente afetou a imagem de Deus em nós, corrompendo-a pelo pecado.
Isso é algo que o capítulo 5 de Gênesis começa a abordar ao afirmar que Sete, filho de Adão, foi gerado segundo a imagem e semelhança de seu próprio pai. Ao analisarmos o relato sobre Adão, Sete e as gerações seguintes, entendemos com clareza como a humanidade foi afetada pelo pecado.
Além disso, também observamos como Deus, desde o início, planejou uma solução através de Cristo, o "último Adão". Este artigo tem o objetivo de refletir sobre essas questões e apontar para o caminho de redenção que o evangelho oferece.
TEXTO BASE
Gênesis 5.1-3
"Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez. Macho e fêmea os criou, e os abençoou, e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados. E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e chamou o seu nome Sete."
IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
O capítulo 5 do livro de Gênesis se inicia com uma recordação: "No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez". Essa recordação é importante porque ressalta que, no dia em que foi criado, o homem foi feito puro e reto.
Normam Geisler, ao comentar sobre as condições originais da criação, destacou que:
"Deus é absolutamente perfeito e, consequentemente, sua criação também foi perfeita. Moisés declarou: “Ele é a Rocha cuja obra é perfeita” (Dt 32.4). Davi acrescentou: “O caminho de Deus é perfeito” (2 Sm 22.31). Jesus disse: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai” (Mt 5.48). Nada menos do que a perfeição pode vir de um Ser absolutamente perfeito, e é próprio de um ser perfeito criar somente coisas perfeitas, já que os efeitos carregam consigo a imagem da sua Causa."¹
Quanto à imagem e semelhança de Deus, podemos observar alguns aspectos. Agostinho de Hipona e Gregório de Nissa, por exemplo, observaram que assim como Deus é três em um (Pai, Filho e Espírito Santo), o ser humano também o é (corpo, alma e espírito), o que é bem interessante.
A maioria dos comentaristas bíblicos, porém, apontam com mais ênfase para as características em comum entre Deus e o homem tais como a vontade, capacidade de criar, governar, se relacionar e muito mais.
James M. Boice destaca que o homem tem "personalidade (conhecimento, sentimento e vontade), moralidade (liberdade e responsabilidade) e espiritualidade (foi feito para ter comunhão com Deus)".² Ao comentar sobre o tema, Augustus Nicodemus também destacou os atributos comunicáveis de Deus, "como amor, justiça, bondade e retidão".³ (Para saber mais sobre este assunto, clique aqui).
Porém, ao narrar as gerações de Adão, a Bíblia diz que ele "gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e chamou o seu nome Sete". Este detalhe é de fundamental importância pois carrega consigo (embora não de forma explícita) a doutrina conhecida como Pecado Original.
IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS, PORÉM CORROMPIDA
A doutrina do Pecado Original sistematiza o ensino bíblico acerca do fato de que, desde A Queda, a humanidade contraiu para si um problema intrínseco, ou seja, um problema de natureza, de modo que todos pecaram e igualmente se fizeram destituídos da glória de Deus.
Isso significa que, desde que nosso pai Adão pecou, a imagem e semelhança de Deus na humanidade fora corrompida, mas não aniquilada como pensam alguns. O ser humano ainda possui a imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 9.6; Tg 3.9,10), mas essa imagem e semelhança não é perfeita como a que possuía o primeiro casal em seu estado anterior à Queda.
Acerca deste assunto, Champlin observou que "como é claro, a natureza pecaminosa de Adão foi reproduzida em Sete. Ele não começou inocente como fora Adão",² muito embora a imagem de Deus continuasse nele.
Igualmente afirma Matthew Henry: "O que é mais perceptível aqui, com relação a Sete, é que Adão o gerou à sua própria semelhança, à sua imagem (...) Quando Adão caiu e se corrompeu, ele gerou um filho à sua própria imagem: pecaminoso e desonrado, frágil, mortal, e desprezível como ele próprio (...) Note que a graça não corre no sangue, mas a corrupção sim".³
Neste sentido, é como se todo ser humano já fosse concebido com uma doença genética, a doença do pecado (Sl 51.5) e da inclinação para com o mal (Rm 7.18-21). Deste modo, somos pecadores não apenas porque cometemos pecados, mas também porque já nascemos em pecado e éramos, por natureza, filhos da ira (Ef 2.3).
Assim, o Novo Testamento ensina que Adão e Eva se tornaram pecadores por meio da desobediência e trouxeram sobre si e sobre toda a sua posteridade a "doença" e a condenação. Vejamos, portanto, o que o apóstolo Paulo nos ensina sobre isso:
"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram (...) Pois assim, por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação (...)" -- Romanos 5.12,18
Ora, se a condenação paira sobre a raça humana, o que poderíamos fazer para reverter essa decisão? Melhor dizendo, se todo homem nasce em pecado, "como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher?" -- Jó 25.4
ATRAVÉS DE CRISTO, O ÚLTIMO ADÃO
Como vimos, todo novo ser humano é concebido com um problema de natureza. Diz a Escritura que "o primeiro homem, da terra, é terreno (...) Qual o terreno, tais são também os terrenos (...) E assim trouxemos a imagem do terreno..." -- I Coríntios 15.47-49
Ou seja, trouxemos a imagem de Adão, isto é, a imagem e semelhança de Deus, porém corrompida. Tanto o mal quanto o pecado já habitam em nós desde a concepção, daí a necessidade de nascermos de novo. Este novo nascimento não é natural (carnal), mas espiritual: da água e do Espírito.
Somos culpados diante de Deus e, de fato, merecemos a morte, mas Deus nos amou de tal maneira que enviou seu filho, Jesus, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Jesus morreu a nossa morte e tomou para si o nosso próprio castigo.
Na cruz, ele tomou o nosso lugar e bebeu cada gota do cálice da ira de Deus a fim de que, hoje, eu e você pudéssemos, de bom grado, tomar posse do cálice da salvação mediante a fé. Não há nenhum mérito em nós, de maneira que é pela graça e méritos de Cristo que somos salvos, somente.
Em Cristo somos chamados à restauração, redenção e glorificação. Deus nos elegeu para sermos "conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" -- Romanos 8.29
Portanto, é necessário que nos revistamos "do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade" (Ef 4.24). Não mintamos, pois, "uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos." -- Colossenses 3.9-11
Somente assim traremos conosco, também, a imagem do último Adão, que é espiritual (I Co 15.49). Creia em Jesus e na sua obra expiatória na cruz do Calvário, confesse isso diante dos homens e tome posse da benção que a graça de Deus oferece a mim e a você.
"Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." -- Romanos 10.8-13
Creia no "cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".
CONCLUSÃO
Se a história do primeiro Adão nos ensina sobre a nossa natureza pecaminosa e nossa necessidade de redenção, a história do "último Adão", Jesus Cristo, nos oferece a solução perfeita. Todos nós, sem exceção, carregamos em nós o peso do pecado e a consequência da queda. Somos pecadores, não apenas por causa das nossas ações, mas por causa da nossa natureza.
Mas Deus, em Seu imenso amor, oferece-nos a doce solução. Cristo veio para restaurar a imagem de Deus em nós, para nos fazer novamente filhos do Pai, conforme à sua semelhança. Ele tomou sobre si o nosso pecado, nossa culpa, e nos ofereceu, pela graça, uma nova vida.
Saiba que a salvação não é algo que conquistamos por nós mesmos, mas é um presente oferecido a todos que colocam sua fé em Jesus.
Hoje mesmo você pode tomar a decisão de entregar sua vida a Cristo, confessar sua fé nele e começar uma nova caminhada, sendo renovado segundo a imagem daquele que o criou. Aceite o convite para se reconciliar com Deus e tomar posse do presente da vida eterna, oferecido gratuitamente através de Cristo.
Christo Nihil Praeponere - “A nada dar mais valor que a Cristo”
FONTE
¹ GEISLER, Normam. Teologia Sistemática, Vol 2. CPAD, 2010, p. 11.
² BOICE, James Montgomery. Gênesis, Vol. 1. Michigan: Baker Books, 1998, p. 90-91.
³ NICODEMUS, Augustus. No Princípio de Tudo. Vida Nova, 2022, p. 71.
⁴ CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Hagnos, 2018, p. 66.
⁵ HENRY, Matthew. Comentário Bíblico -- Antigo Testamento, Vol 1. CPAD, p. 43.
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