JUSTIÇA E VINGANÇA: A LIÇÃO DE LAMEQUE E O PERDÃO DE JESUS
POR RODRIGO HENRIQUEGênesis cap. 4 aborda temas profundos como a justiça e a vingança. Após matar Abel, Caim recebeu a punição divina e também um sinal de proteção, cujo objetivo era impedir que alguém o matasse na intenção de vingar a morte de Abel.
Mais tarde, Lameque, um descendente de Caim, distorceu esse conceito ao vangloriar-se de sua própria vingança desmedida. Este artigo examina a diferença entre a justiça divina, equilibrada e misericordiosa, e a vingança humana, frequentemente desproporcional.
Compara ainda esses conceitos à visão de perdão ensinada por Jesus, que contrasta fortemente com a sede de vingança demonstrada por Lameque.
TEXTO BASE
Gênesis 4.15,23,24
O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será vingado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse. [...] E disse Lameque a suas mulheres: Ada e Zilá, ouvi a minha voz; vós, mulheres de Lameque, escutai o meu dito: Porque eu matei um varão por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado, mas Lameque, setenta vezes sete.
SETE VEZES SERÁ VINGADO
Após Caim ter assassinado seu irmão, Deus veio ao seu encontro oferecendo uma oportunidade para confissão e arrependimento, mas Caim optou por não abraçar a graça do Senhor. Na verdade, Caim mentiu a Deus e lhe respondeu com descaso e irreverência.
O Senhor, porém, lhe declarou o seu santo e justo juízo. Caim, preocupado, respondeu ao Criador que todo aquele que o encontrasse certamente o mataria em vingança pelo assassinato de Abel. Neste contexto, Deus disse que qualquer que assim o fizesse seria castigado (vingado) sete vezes.
"O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será vingado". Ora, bem sabemos que a vingança, como juízo, pertence a Deus: "Minha é a vingança e a recompensa [...]" - Deuteronômio 32.35
Em face disso é preciso ressaltar que a palavra vingança tem um sentido um tanto desconfortável na mentalidade popular brasileira, mas seu significado em hebraico refere-se à justa retribuição pelo mal praticado, ou seja, a aplicação da justiça ou punição merecida.
Deus estava dizendo, portanto, que qualquer que resolvesse fazer justiça com as próprias mãos e erguê-las a fim de matar a Caim receberia o castigo e a vingança divina sete vezes. Isto porque Deus já havia declarado seu juízo a Caim, ou seja, a sentença pela sua atitude já havia sido dada.
Desta maneira, matar Caim seria o mesmo que usurpar a posição divina e anular o castigo já estabelecido por ele. Assim, o Senhor colocou um sinal em Caim a fim de que ninguém o matasse. Observe que este sinal não era uma maldição, pois consistia em proteção, e não o contrário.
MAS LAMEQUE, SETENTA VEZES SETE
Tendo recebido a sentença divina, Caim saiu de diante da face do Senhor e foi habitar na terra de Node, onde posteriormente edificara uma cidade. É aí que entra Lameque, um dos descendentes de Caim. A Bíblia apresenta este homem como o primeiro bígamo da história. Suas mulheres se chamavam Ada e Zilá.
No entanto, o que nos interessa neste estudo é o fato de que Lameque fez uma espécie de poema para engrandecer a sua própria maldade. Ao se dirigir às suas esposas, lhes disse: "Porque eu matei um varão por me ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado, mas Lameque, setenta vezes sete".
Lameque, neste sentido, está citando a Palavra que Deus falou com Caim. O grande problema, porém, está no que ele disse antes e depois desta citação, pois declarou ter cometido dois assassinatos por motivos evidentemente fúteis.
Este homem matou a um varão por ter-lhe ferido e a um jovem por ter-lhe pisado e, não bastando isso, disse que Lameque (ele mesmo) seria vingado setenta vezes sete. Enquanto Deus vingaria a qualquer que matasse a Caim sete vezes, Lameque estava dizendo que ele mesmo vingaria a si próprio setenta vezes sete.
Sendo assim, Lameque estava se julgando maior e melhor do que Deus. Ele considerou sua justiça superior à divina e, como podemos observar, pela futilidade que deu causa aos assassinatos que cometeu, se portava com rigor e severidade, não havendo lugar para a misericórdia.
Este homem pregava e vivia a vingança.
O SETENTA VEZES SETE DE JESUS
Os milênios se passaram e Jesus se fez carne, habitando entre os homens. Em seu ministério terreno Jesus muito nos ensinou a respeito do perdão e da misericórdia, afinal de contas ele viveu e demonstrou o perdão de forma profunda, a ponto de se entregar a si mesmo em nosso favor.
Certa vez, um de seus discípulos (Pedro) o questionou acerca do perdão: "Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?" -- Ao passo que Jesus lhe respondeu: "Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete" - Mateus 18.21,22
Ora, Jesus é o mestre dos mestres e conhecia profundamente a Torá. Ele sabia o que Lameque havia dito e feito, conforme o relato do Gênesis, e certamente foi com este fato em mente que Jesus respondeu que o perdão deveria ser praticado setenta vezes sete.
Isso porque Lameque era da descendência ímpia de Caim, enquanto Jesus era da descendência de Sete. O que podemos, portanto, aprender com tudo isso?
CONCLUSÃO
Em primeiro lugar, é melhor cair nas mãos do Senhor do que nas mãos dos homens. "Então, disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens" - I Crônicas 21.13
Observamos que Deus puniu a Caim, declarando-lhe a sua justa sentença em razão do mal praticado. A justiça divina não condenou Caim à morte, mas a justiça de Lameque condenou dois homens à morte por motivos fúteis e desproporcionais.
Deus é justo e sempre julga com justiça, mas também é misericordioso e se arrepende do mal. Neste sentido, é melhor receber o juízo divino do que cair nas mãos de homens ímpios como Lameque. Quando pecares, procura confessar logo o teu pecado ao Senhor, que é misericordioso para te poupar de um castigo severo.
Em segundo lugar, os ímpios clamam por vingança. Homens sem Deus não costumam agir com misericórdia, mas com ódio e rancor. Se você se ira facilmente e responde às ofensas com violência e desproporcionalidade, você está andando pelo caminho de Lameque e está em total oposição ao caminho de Jesus.
Não seja como Lameque, a vingança e a retribuição ainda pertencem ao Deus de Israel. Diante dos seus ofensores, confie no Senhor que vê a tudo e a todos, pois ele há de julgar com justiça. Lembre-se de que aquele que não perdoa também não é perdoado diante dos céus (Mt 6.14,15).
Toda árvore é conhecida pelos frutos que produz...
Em terceiro e último lugar, os fiéis clamam por perdão. Homens cheios do Espírito de Deus agem com misericórdia e amor porque também encontraram o perdão. Todos pecaram e são dignos do juízo, mas ao arrependido Deus concede misericórdia e graça, perdoando os seus pecados.
Porque fomos perdoados também devemos perdoar. Não somos como os ímpios que clamam e vivem a vingança, mas clamamos e vivemos o perdão. Encontramos perdão, anunciamos o perdão e praticamos o perdão.
E orando, dizemos: "Perdoa as nossas ofensas assim como nós temos perdoado àqueles que nos têm ofendido" - Mateus 6.12
Christo Nihil Praeponere - “A nada dar mais valor que a Cristo”
Nenhum comentário:
Postar um comentário