SERMÃO - DEUS E O PECADOR

  POR RODRIGO HENRIQUE

SERMÃO - DEUS E O PECADOR


"Deus e o Pecador" é um sermão que tem por finalidade apontar não apenas o pecado e suas consequências, mas busca apresentar, também, a maravilhosa graça e misericórdia de Deus. Neste propósito a mensagem se dividirá em cinco (5) tópicos didáticos, a saber: I - A Tentação; II - A Culpa; III - A Separação; IV - A Busca Pelo Pecador; e V - A Restauração.

TEXTO BASE


"E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me [...] E fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu" Gênesis 3.8-10, 21

INTRODUÇÃO


O livro de Gênesis é extremamente fundamental para todos os cristãos, pois trata-se de um conjunto de "princípios" ou "origens" e sem ele, como diz o pastor Claudionor de Andrade, "as grandes perguntas da vida ainda estariam sem resposta". Encontramos em seu conteúdo, por exemplo, as origens do universo, do homem, da família, da Queda e muito mais.

Em toda narrativa bíblica do Gênesis Deus nos mostra que criou a raça humana sem mancha ou pecado e plantou, para o deleite do homem, um belíssimo jardim que todos conhecemos como "o Jardim do Éden". Ali o homem tinha em sua posse tudo quanto precisava; era sem sombra de dúvidas um paraíso de prazeres e delícias que a humanidade tinha à sua disposição.

Nos diz o texto que "tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás" - Gênesis 2.15-17

Isto significa que o homem poderia tomar e comer de toda árvore do jardim livremente. No entanto, Deus não quis criar um ser que o servisse por obrigação, ou meramente por ser a única opção. Assim, com a finalidade de garantir o livre arbítrio e a possibilidade de escolha, colocou no jardim uma única árvore da qual o homem não poderia tomar e comer: "a árvore da ciência do bem e do mal".

Não devemos presumir que Deus estivesse privando o homem de algo bom, na verdade tratava-se exatamente do contrário. O "não comerás" tinha por objetivo preservar o bem mais precioso e valioso que o homem possuía: sua própria vida -- física e espiritual! Bem sabemos que o pecado tem uma triste e severa consequência, a morte (cf. Rm 6.23). Desse modo, o Senhor o alertou dizendo que no dia em que comesse do fruto da árvore proibida, certamente viria a morrer.

Portanto, entendemos que todo "não" de Deus é, em verdade, benção para nós. Saiba que sempre que o Senhor lhe der um "não" em resposta às suas orações e petições, Seu doce objetivo não é lhe privar de algo bom, mas prevenir que você venha a morrer ou sofrer horríveis consequências. Podemos ter certeza de que os pensamentos de Deus a nosso respeito são pensamentos de paz, e não de mal (Jr 29.11-13). Sendo assim, descanse nesta gloriosa verdade: a vontade de Deus para conosco é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2).

I - A TENTAÇÃO


Dentre as várias origens que o Gênesis nos apresenta, uma é a mais drástica. Trata-se da entrada do pecado no mundo, o que conhecemos por "Queda". O capítulo três (3) inicia descrevendo tal situação e nos mostra que Satanás usou de uma serpente a fim de tentar Eva, esposa de Adão, a comer do fruto proibido. Então, ao iniciar um diálogo com a mulher, a serpente a convenceu de suas mentiras e induziu Eva à prática da desobediência contra Deus.

Sendo mui astuto, Satanás procurou um momento adequado para aquela empreitada, pois se aproveitou de uma circunstância em que Eva estava desacompanhada de seu marido, ou seja, estava só e vulnerável. Devemos olhar para este fato e nos precaver a este respeito. Somos vulneráveis quando estamos sozinhos e não devemos, por exemplo, deixar de congregar (cf. Hb 10.25-27), pois é por meio da união entre os irmãos que nós nos admoestamos e fortalecemos uns aos outros.

Fato é que Eva deixou-se levar pelo engano e desejo e, não bastando ter pecado, tomou do fruto e deu também a seu marido, "e ele comeu com ela" (3.6). A Palavra de Deus nos diz que Eva foi enganada, isto é, ela comeu do fruto acreditando, de fato, nas palavras da serpente. Mas com Adão não foi assim; infelizmente ele comeu do fruto de modo deliberado e consciente (I Tm 2.14).

Essa história volta a repetir-se dia após dia... Alguns pecam porque são enganados e acreditam numa mentira, outros pecam de modo deliberado e consciente, sabendo que sua conduta é reprovável e ofensiva à santidade de Deus. Precisamos aprender a colocar em prática a oração e vigilância constantes a fim de não sermos enganados ou achados, deliberadamente, em pecado diante do Pai.

II - A CULPA


Culpa é o resultado inerente da prática do pecado. Não há nem uma desculpa sequer que poderemos colocar diante de Deus a fim de nos justificarmos. Somos todos culpados e responsáveis pelas nossas transgressões e, assim sendo, ecoa a pergunta ao longo dos séculos: "Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher? - Jó 25.4

Felizmente há uma resposta, mas ela será apresentada apenas ao final deste sermão. Medite, porém, no fato de que o pecado nos torna indesculpáveis diante do Senhor. A verdade é que "todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus". Adão tinha pleno conhecimento de sua culpa e isso o conduziu a fugir e se esconder, sem êxito, da presença daquele que é "Santo, Santo, Santo" e puro "fogo consumidor".

III - A SEPARAÇÃO


Esta é a consequência mais terrível do pecado, a separação. Nos diz o profeta Isaías que as nossas transgressões promovem a divisão e fazem separação entre nós e o nosso Deus. A essa separação da presença do Senhor damos o nome de "morte espiritual". Neste sentido o pastor Hernandes Dias Lopes diz que o pecado é maligníssimo e aponta, de forma muito clara e profunda, os motivos da sua afirmação:

"O pecado é pior do que o sofrimento mais atroz, pois é a causa dos mais terríveis sofrimentos. É pior do que a morte, porque é a causa da morte. É pior do que o inferno, porque no inferno os réprobos jamais se gloriarão no pecado. O pecado é um embuste fatal. Promete felicidade e traz desgosto; promete liberdade e escraviza; promete vida e mata. O pecado é doce ao paladar, mas amargo no estômago. É agradável aos olhos, mas esconde o anzol da morte. Oferece as taças borbulhantes do prazer imediato, mas condena o pecador ao tormento eterno.

O pecado é maligníssimo porque priva o homem do maior bem, a presença de Deus. O sofrimento, a enfermidade e a própria morte física não podem afastar o homem de Deus, mas o pecado afasta-o da presença de Deus no tempo e na eternidade. Deus é luz, mas o pecado é treva espessa. Deus nos criou para o louvor de sua glória, mas o pecado é rebelião consumada contra ele. O pecado é uma afronta à santidade de Deus. É transgressão da lei de Deus. O pecado é uma alternativa grotesca às generosas ofertas da graça. Oferece um fruto proibido. Desfaz, com mentiras deslavadas e escárnio vil as advertências divinas. Eleva o homem ao pódio do prestígio e depois o arremessa impiedosamente no abismo do desespero.

O pecado promete o que não pode dar. Seus frutos são atraentes aos olhos, mas não satisfazem. Seus licores são adocicados, mas escondem o veneno da morte. O pecado abre todas as portas das liberdades sem fronteiras, mas depois tranca sua vítima numa masmorra insalubre. Promete riquezas fáceis, mas depois flagela a pessoa com o chicote da culpa. O pecado é o combustível que alimenta as chamas do inferno. Onde o pecado domina, prevalece a mentira. Onde o pecado desfila na passarela, a alegria é rasa e a paz é postiça. Onde o pecado se assanha, as perversões de toda ordem se refestelam. Onde o pecado é tolerado, a presença de Deus não se manifesta (...)".¹

Não bastasse isso, além de separar o homem da própria natureza criada por Deus para o seu deleite, o pecado também separa o ser humano do seu semelhante, bem como de si mesmo. Em face disso, todos nós podemos confessar em uma só voz: "Pequei e cometi injustiças, o que de nada me aproveitou" - Jó 33.27

IV - A BUSCA PELO PECADOR


Apesar de tudo, Deus, em sua maravilhosa graça e misericórdia, sempre busca pelo pecador a fim de trazer-lhe a restauração: "E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?" - Gênesis 3.9

Ora, o Senhor é onisciente e conhece tudo e a todos. A pergunta de Deus para com Adão é, em verdade, a mais pura oportunidade para que haja confissão de pecados. "Onde estás?" não reflete apenas uma posição geográfica, mas também espiritual. E a pergunta hoje continua sendo a mesma; "onde estás?", "qual é o seu estado?", "em que situação e posição você se encontra?".

Deus quer ouvir nossa confissão. Devemos seguir o exemplo de Adão e confessar; também precisamos estar atentos para jamais agirmos como Caim, que rejeitou esta doce oportunidade e teve sobre si um trágico resultado (Gn 4.14,16). É necessário entender quem somos, o que fizemos e o que Deus requer de nós!

Ele sempre deu o primeiro passo em nosso favor. Trata-se de um princípio, pois foi Ele quem nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto e, se nós o amamos, é porque Ele nos amou primeiro. Nós não o escolhemos, mas Ele nos escolheu a nós e nos ofereceu a oportunidade de confissão e arrependimento. Não há, portanto, nenhum mérito da nossa parte. Só somos capazes de tomar o cálice da salvação porque Seu filho, Jesus, tomou em nosso lugar o cálice da santa ira de Deus.

V - A RESTAURAÇÃO


Adão não ficou calado diante da pergunta que Deus lhe fez, mas aproveitou daquela oportunidade para confessar o seu estado de nudez e vergonha espiritual, e disse: "Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me" - Gênesis 3.10

Ora, duas coisas são emblemáticas aqui: em 1º lugar, o fato de Adão temer a Deus implica uma atmosfera de medo do castigo decorrente da sua transgressão (I Jo 4.18); e, em 2º lugar, observamos no decorrer de toda a Escritura que vestes e nudez são constantemente relacionadas à condição espiritual dos indivíduos diante de Deus (cf. Ec 9.8; Mt 22.12,13).

Podemos citar, a título de exemplo, o texto em que Jesus exorta a Igreja de Laodiceia da seguinte maneira: "Aconselho que você compre de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja, de fato, rico. Compre vestes brancas para se vestir, a fim de que a vergonha de sua nudez não fique evidente, e colírio para ungir os olhos, a fim de que você possa ver" - Apocalipse 3.18

Aplicaremos neste sermão, portanto, tal sentido. Na narrativa do Gênesis fica evidente que, a despeito das consequências registradas no capítulo três (3), Deus agiu de modo gracioso e misericordioso frente à confissão de Adão. Desse modo, "fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu", cobrindo, assim, a vergonha da nudez provocada pelo pecado (Gn 3.21).

Isto significa que houve derramamento de sangue inocente, sangue sem culpa. Para que as túnicas de peles fossem preparadas, um animal que não tinha nada a ver com o pecado teve de ser sacrificado. O inocente foi morto em benefício do pecador -- e glórias a Deus por isso, porque foi exatamente o que Ele também fez por mim e por você.

O cordeiro inocente de Deus, que tira o pecado do mundo, foi morto em nosso benefício. Se hoje estamos com a vergonha dos nossos pecados coberta diante de Deus, é graças a Ele mesmo, pois providenciou tal recurso para nós. A noite já é passada e o dia já é chegado. Podemos, assim, nos revestir de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 13.12-14) a fim de andarmos em santidade para com Deus.

CONCLUSÃO


"Deus e o Pecador" nos apresenta, portanto, uma breve consideração acerca da relação de Graça e Misericórdia para com aquele que confessa os seus pecados a Deus. Constantemente somos tentados e por vezes somos até mesmo enganados por Satanás; seu objetivo não é outro senão a nossa morte. No entanto, Gênesis nos ensina que apesar das nossas transgressões e culpa diante de Deus, Ele continua nos amando e oferecendo oportunidade para confissão e perdão. 

Não fuja de Deus, não procure se esconder dEle. Aproveite enquanto ainda há tempo, dê ouvidos à sua maravilhosa voz e confesse todas as suas transgressões. Como vimos, o pecado não vale a pena, é puro engano. Coloque, pois, sua vida diante do Trono da Graça e receba a libertação e restauração que só Ele pode dar. 

Deus está aguardando sua resposta à pergunta: "Onde estás?". Volte-se para Ele em sinceridade, pois a restauração está, agora mesmo, ao seu alcance.



"Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. [...] Torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar" 
- Isaías 55.7

Um comentário:

  1. Que sermão magnífico! Precisava ler isso. Me edifiquei de tal forma... glória a Deus

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