ÉFESO - UMA IGREJA PARADOXAL

POR RODRIGO HENRIQUE
ÉFESO - UMA IGREJA PARADOXAL

Paradoxo é uma palavra que traz alguns significados, entre eles podemos destacar a aparente falta de nexo ou de lógica; contradição”. A Igreja em Éfeso era um tanto paradoxal.


ESBOÇO

1 - Breve Contexto Geográfico e Histórico
2 - Introdução
3 - O Remetente
4 - Uma Igreja Desejável
5 - Repreensão
6 - A Exortação
7 - O Porém
8 - Conclusão
9 - Período Profético
10 - Notas de Rodapé
11 - Referências


CONTEXTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO

Éfeso era uma cidade com localização privilegiada. Situada na costa ocidental da Ásia Menor, era a maior e mais rica cidade da região. O seu porto -- o mais importante da Ásia -- e rotas comerciais, bem como o acesso aos mares Egeu e Mediterrâneo lhe proporcionaram grande prosperidade e crescimento. Cerca de trezentos mil habitantes viviam lá. 

Ali nasceu Heráclito, o filósofo (540 - 470 a.C). Como centro de adoração à Diana (ou Ártemis), seu templo era uma das sete maravilhas do mundo antigo. A cidade -- além de ser a capital da Ásia -- também ostentava um teatro com assento para mais ou menos vinte e quatro mil pessoas e uma biblioteca onde se encontravam cerca de doze mil livros (NR1).

Éfeso era uma cidade altamente idólatra e imoral, sua população agarrava-se ao misticismo e ocultismo. Inúmeras sacerdotisas exerciam o papel de prostitutas sagradas no templo de Diana. Faltava-lhes a mensagem do evangelho de Cristo a fim de que tamanha densidade de trevas fossem confundidas pela Sua maravilhosa luz. 

Paulo aportou-se em Éfeso já em sua terceira viagem missionária. O apóstolo ensinou e exortou a todos quantos teve oportunidade, quer fossem judeus ou gregos. Sua mensagem os convidava ao arrependimento e fé em Jesus, Nosso Senhor. A luz do evangelho chegou àquela cidade gerando muitos resultados. Quão edificante deve ter sido presenciar tamanho avivamento e conversão dos efésios ao único Deus e Senhor do universo. 

Ali, Paulo apregoou a Palavra da Vida durante o período de três anos. O Pr. Hernandes Dias Lopes enumerou os resultados alcançados pelo apóstolo do Senhor em seu livro “Paulo, o Maior Líder do Cristianismo”

Em primeiro lugar - “Os novos convertidos recebem um derramamento do Espírito” (At 19.1-7). Segundo - “Os que vivem distantes ouvem a Palavra de Deus” a partir de Éfeso (At 19.8-10). Terceiro - “Os enfermos são curados” (At 19.11,12). Quarto - “Os cativos são libertos” (At 19.13-17). Quinto - “Os crentes confessavam e denunciavam publicamente suas obras” (At 19.18).  Sexto - “Os laços com o ocultismo foram decisivamente rompidos” (At 19.19). Por fim, em sétimo lugar - “A Palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (At 19.20).

Mas como sempre, a antiga serpente logo se prestou a
colocar-se em oposição às obras da luz. Paulo sofreu forte oposição e perseguição conforme nos descreve o livro de Atos, cap. 19 versos 21 a 40. Apesar de tudo, os planos de Deus não podem ser frustrados (Jó 42.2). Além de Paulo, a Igreja em Éfeso foi pastoreada por Timóteo e Tíquico, também receberam o pastoreio do apóstolo João, tanto antes quanto após (NR2) ter sido desterrado na Ilha de Patmos.


INTRODUÇÃO

Paradoxo é uma palavra que traz alguns significados, entre eles podemos destacar a aparente falta de nexo ou de lógica; contradição”. A Igreja em Éfeso era um tanto paradoxal. Sua contradição se revela no fato de que era ortodoxa (NR3), mas não vivia a ortopraxia (NR4). Trabalhava ativamente, mas seu trabalho não era realizado em amor. Era ocupada com a obra de Deus, mas não se ocupava mais com o Deus da obra. 

Neste estudo iremos analisar a carta à Igreja de Éfeso. Esperamos que seja proveitoso e útil para a sua vida espiritual. Não se esqueça de que neste estudo você encontrará em destaque as passagens bíblicas que também estarão acompanhadas dos versículos entre parênteses. O capítulo estudado estará exposto no título de cada seção. Como já mencionado anteriormente, para um melhor entendimento, é fundamental que você acompanhe as passagens citadas em sua Bíblia.


O REMETENTE
APOCALIPSE 2.1

O remetente da carta é Jesus, “aquele que tem na sua destra as sete estrelas” (1). Já mencionamos no estudo anterior que, conforme descreve o capítulo um, verso 20, as sete estrelas são os sete anjos das sete igrejas. Dessa forma, Jesus “anda no meio dos sete castiçais de ouro” (1) com os pastores em Sua poderosa mão. Richardson diz que “todos os verdadeiros ministros de todas as igrejas estão nas mãos de Cristo [...] À medida que Cristo se move no meio das igrejas, Ele segura os ministros em suas mãos” (NR5). Isto é um verdadeiro alento tanto para os pastores quanto para as ovelhas -- "e ninguém as arrebatará da minha mão" (Jo 10.28)


UMA IGREJA DESEJÁVEL
APOCALIPSE 2.2-3

Deus não apenas nos vê, Ele nos conhece profundamente. Jesus inicia a sua mensagem àquela Igreja assim: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho” (2), evidenciando que nada está oculto aos seus olhos como "tochas de fogo" (Dn 10.6). Os crentes de Éfeso eram ativos. Eles praticavam as boas obras e trabalhavam em prol do Reino dos Céus com “paciência” (2). A palavra utilizada em grego para paciência é “hypomone” e significa “persistência e constância”. Seu trabalho era evidente; não eram cristãos preguiçosos para com a Obra de Deus.

“Não podes sofrer” (2) manifesta a intolerância para com “os maus” (2). Não suportavam a mentira e colocavam “à prova” (2) os que se diziam ser apóstolos e não o eram (NR6). Sem dúvida alguma eles agiam como os irmãos de Beréia que “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11). Dessa forma, examinando o ensino e conferindo-o na Palavra da Verdade, os acharam “mentirosos” (2) (NR7). Somente se formos íntimos das Escrituras é que teremos condições de andarmos pautados pela Verdade (Sl 119.104-105).  

“E sofreste, e tens paciência” (3) revela-nos que estes irmãos, apesar do sofrimento, permaneciam constantes e persistentes em relação ao trabalho pelo nome do Senhor. Senão, vejamos: “e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste” (3). Destarte, fica evidente que eles não se deixavam desfalecer apesar das oposições, mas permaneciam ativamente firmes em suas convicções. Com tantas qualidades Éfeso era realmente uma Igreja desejável e, tais virtudes, nos advertem para que sejamos crentes melhores (Hb 6.9).


REPREENSÃO
APOCALIPSE 2.4

“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor” (4). Aqui nós observamos algo muito sério, a palavra utilizada em grego para “deixaste” é o verbo “aphiemi” e significa “mandar embora, abandonar, deixar ir”. Não se trata de ter “perdido” o primeiro amor, mas de tê-lo mandado embora, abandonado, deixado ir. Ralph Earle (NR8) comenta que “isso sugere uma negligência voluntária. É por isso que se exigiu o arrependimento. Pecados de omissão podem ser tão fatais em suas consequências quanto pecados de ação”. 

Acerca disso, devemo-nos lembrar que Deus não olha apenas para o nosso trabalho, mas também para o nosso coração (I Sm 16.7). Paulo nos ensina que “ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (I Co 13:3). Acertadamente William Hendriksen (NR9) diz que a Igreja em Éfeso era como uma esposa fiel ao seu marido sem, no entanto,  amá-lo com toda a sua devoção: “Ela pode cumprir com os seus deveres, mas não motivada por um profundo amor”.  

Steven J. Lawson (NR10) também faz uma abordagem interessante ao dizer que “o primeiro amor é fervoroso, passional e apaixonado. É como o de recém-casados. É romântico (...) Os corações se acendem. O romance inflama. As vidas se apaixonam, tornam-se uma. Mas algo acontece. Em algum lugar na rotina diária do casamento, a lua-de-mel termina. Nascem as crianças. A carreira decola. Os negócios se expandem. As atividades aumentam. O stress se multiplica. E, repentinamente, duas pessoas acordam totalmente estranhas”.  


 A EXORTAÇÃO
APOCALIPSE 2.5

“Lembra-te, pois, de onde caíste” (5) sugere ao homem que faça um exame minucioso de si mesmo. Primeiro é necessário parar. Desocupar-se da correria do dia a dia. Olhar para si e fazer uma profunda avaliação: Como eram as coisas no início? O fervor que eu tive nos primeiros dias de caminhada ainda é o mesmo? Pergunte-se se enquanto medita na Palavra há alegria em sua alma. Lembra-se de quando você derramava suas lágrimas diante dEle? Lembra-se das visitas realizadas, das serenatas? Como você apaixonadamente anunciava o evangelho! Você já realizou em amor o que agora pratica por obrigação. No passado você não agia de forma diferente? Pense nisso!

Jesus os deu uma oportunidade: “arrepende-te” (5). Arrepende-te de ter deixado o seu primeiro amor. Arrepende-te de ter abandonado aquele fervor que dantes você tinha. Aquela alegria. Aquele ânimo. É preciso arrepender-se a fim de praticar as primeiras obras” (5) novamente. Pois “quando não, brevemente a ti virei” (5). Se não nos arrependermos em sinceridade e verdade, nosso castiçal será tirado “do seu lugar” (5). Concordo com o Pr. Hernandes Dias Lopes (NR11) quando diz que o castiçal “é feito para brilhar. Se ele não brilha, ele é inútil, desnecessário”.

O caminho para a vida passa necessariamente pelo arrependimento e conversão. Infelizmente muitos templos já se transformaram em bares, boates, museus e etc. Igrejas que outrora foram castiçais jazem apagadas e esquecidas. Oremos e vigiemos para que não venhamos a perder este amor. Entreguemo-nos a Deus e não somente à obra de Deus. Nada vale ser um castiçal sem luz. Nada vale ser sal sem sabor. Nada vale ter bíblia sem unção e poder do Espírito Santo de Deus. Atentemo-nos também para o conselho que diz: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (I Co 10:12).


O PORÉM
APOCALIPSE 2.6

“Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas” (6). Sobre os nicolaítas também comenta o Pr. Hernandes Dias Lopes que “eles pregavam um evangelho liberal, sem exigências e sem proibições. Eles queriam gozar o melhor da igreja e o melhor do mundo. Eles incentivavam os crentes a comer comidas sacrificadas aos ídolos. Eles ensinavam que o sexo antes e fora do casamento não era pecado. Eles acabavam estimulando a imoralidade. Mas a igreja de Éfeso não tolerou a heresia e odiou as obras dos nicolaítas”. Obras das quais o próprio Senhor diz “eu também odeio” (6). A palavra utilizada no original para "odeio" é o verbo "miseó" e significa que Deus "detesta" tais obras de forma intensa, não se tratando, pois, de uma simples desaprovação.  


CONCLUSÃO

Éfeso era uma Igreja desejável. Havia solidez doutrinária e conhecimento bíblico denso. Não eram enganados por mentiras ou heresias, pelo contrário, colocavam à prova os falsos mestres e os achavam mentirosos. Mas algo não estava certo na vida daquela comunidade cristã. De tanto ocuparem-se e trabalharem em prol do Reino dos Céus, não se entregavam mais de todo o coração ao Rei do Reino. É como o cristão que vai à Igreja buscando as bênçãos de Deus, mas não o Deus das bênçãos. 

Trabalha-se muito em em favor da obra dEle: abre-se a igreja, limpa-se a igreja, define-se o culto, faz serenatas, participa de visitas e de evangelizações. É uma reunião, é outra reunião, é um ensaio, é um seminário, é isso, é aquilo… Tudo isso é bênção! Mas devemos nos acautelar a fim de não cometermos o mesmo erro que a Igreja em Éfeso havia cometido. Quem sabe temos amado mais a obra de Deus do que o Deus da obra? Pense nisso! 

Não sejamos paradoxais, antes, sejamos constantes para com Deus (Ef 4.14, Tg 1.8). 

É importante mencionar que em Gênesis o homem foi expulso do paraíso de Deus, o jardim do Éden. Ao pecar e se rebelar contra Deus o homem perdeu, em consequência, o acesso à árvore da vida. Porém, o livro de Apocalipse traz uma nova esperança para todo aquele que permanece fiel em seu amor para com Deus: "Ao que vencer", disse Jesus, "dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus" (Ap 2.7).

Bendito seja o Senhor, hoje e sempre! Amém.

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (7).


PERÍODO PROFÉTICO

A Igreja em Éfeso representa o período da Igreja Apostólica (33 - 100 d.C). Trata-se de um período no qual a doutrina foi estabelecida e a Igreja fora ensinada. Havia crescimento e avanços evangelísticos, o fervor inicial era-lhes reconfortante. Pregavam uma mensagem ousada: “Cristo está vivo" e "não é vã a nossa fé”. Entretanto, no final do século, a profecia já nos alertava para a perda do primeiro amor e para a necessidade de arrependimento. 



NOTAS DE RODAPÉ


NR1 Rolos/Pergaminhos
NR2 -  João “foi posto em liberdade e levado para Éfeso”, onde “morreu durante o reinado de Trajano. A tradição relata que quando João, já muito idoso e demasiado fraco para caminhar, era levado à igreja de Éfeso, ele admoestava aos membros, dizendo-lhes: 'Filhinhos, amemo-nos uns aos outros'.” Para conhecer mais leia Apocalipse - O Futuro Chegou, Hagnos, p. 63.
NR3 - “Do gr. orthodoxos. Qualidade de uma declaração doutrinária que se acha de acordo com o ensino no Antigo e no Novo Testamentos. Ortodoxia é, também, o conjunto de doutrinas provindas da Bíblia, e tidas como verdadeiras de conformidade com os credos, concílios e convenções da Igreja”. Para conhecer mais leia Lições Bíblicas, Mestre, CPAD, 2º trimestre de 2012, p. 20.
NR4 - “Do gr. orthopraxia. É o exercício prático, a partir de uma profunda reflexão teórica. É a ação feita após a apreensão de um conceito. No caso da fé cristã, é a ação executada segundo a doutrina bíblica (ou Ortodoxia) ensinada por Jesus de Nazaré”. Para conhecer mais leia Lições Bíblicas, Mestre, CPAD, 2º trimestre de 2012, p. 20.
NR5 - Para conhecer mais, leia Comentário Bíblico Beacon, CPAD, Vol 10, p. 410.
NR6 -  Cf. a primeira epístola de João 4.1: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”.
NR7 - Cf. a carta aos Gálatas 1.8-9: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema”.
NR8 - Comentário Bíblico Beacon, CPAD, Vol 10, p. 412.
NR9 - Apocalipse, o Futuro Chegou, Hagnos, p. 69.
NR10 - As Sete Igrejas do Apocalipse, CPAD, p. 85.
NR11 - Apocalipse, o Futuro Chegou, Hagnos, p. 72.


REFERÊNCIAS  

Bíblia Sagrada -  Almeida e Corrigida, Almeida e Corrigida Fiel, Versão Católica e Interlinear Bible 
As Sete Igrejas do Apocalipse; CPAD - Steven J. Lawson
Comentário Bíblico Beacon; CPAD, Vol 10 - Vários Autores 
Apocalipse, O Futuro Chegou; Hagnos - Hernandes Dias Lopes  
Guia de Estudo Bíblia Fácil - Apocalipse; Novo Tempo - Vários Autores
As Sete Cartas do Apocalipse; CPAD - Revista de Lições Bíblicas, 2012
Os Sete Castiçais de Ouro; CPAD - Claudionor de Andrade, 2012
Daniel e Apocalipse; EETAD - Antônio Gilberto da Silva, 2003

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