LUTERO, CALVINO, A REFORMA E A NOITE DOS CRISTAIS

POR MARCO SOUSA
LUTERO, CALVINO, A REFORMA E A NOITE DOS CRISTAIS

Todo cristão protestante sabe e confessa que a reforma religiosa do século XVI foi uma grande benção de Deus, que interveio na história do seu povo. Com seu poder ELE deteve o grande inimigo do evangelho, isto é, o velho sistema romanista, responsável por mergulhar a cristandade na miséria espiritual com suas indulgencias e paganismo. A luz da palavra de Deus começou a iluminar o caminho da cristandade...

A reforma e os reformadores foram uma benção até certo ponto, porém o mau uso do livre-arbítrio humano é capaz de transtornar qualquer roteiro, principalmente quando o homem vislumbra o poder material, a governabilidade sobre o próximo. Existe uma nítida diferença entre aquilo que os reformadores pregaram nos dias da reforma protestante e aquilo que passaram a defender depois que a reforma estava feita. Há pregadores que dizem que para Deus ser soberano o homem não pode ter livre-arbitrio. Não existe isto na Bíblia Sagrada. Esta doutrina foi inventada por homens.

Calvino fez tudo certo como um bom moço e defendia a paz, mas quando Genebra estava ao seu estilo tornou-se um tipo de coronel religioso. O coronelismo de alguns lideres religiosos do nosso tempo teve a sua origem em João Calvino e na sua obediência aos métodos de coação e imposição religiosa aprendidos com Agostinho de Hipona. A história não mente.

Lutero tornou-se um antissemita radical e seus escritos foram usados por Hitler e seus compatriotas para convencerem a população alemã de que o massacre dos judeus era necessário. A “noite dos cristais” ou “Kristallnacht” em que todos os comerciantes judeus da Alemanha tiveram suas lojas saqueadas e foram arrancados para fora de suas casas para serem mortos, foi justamente a data do aniversário de Lutero. Esta data marcou o inicio do holocausto judeu na Alemanha.




Um cristão sóbrio não seguirá certos conselhos próprios de homens violentos, sabendo que no tempo deles havia outros homens de Deus que recusaram os seus métodos. Cristo nunca mentiu e ELE mesmo disse que as “portas do inferno não prevaleceriam contra a sua igreja” e que ELE permaneceria com seus discípulos até a consumação dos séculos.

Outro reformador contemporâneo dos reformadores mais famosos, o qual era totalmente contra a violência e se recusava a praticá-la...

A igreja não se levantou na reforma, ela sempre esteve de pé, perseguida, afrontada e escondida nos próprios mosteiros romanistas ou principalmente fora deles, fazendo oposição ferrenha ao papado. Dizer que a igreja e o verdadeiro evangelho surgiram na reforma protestante é ignorância quanto à própria história do cristianismo e quanto ao evangelho bíblico ou falta de honestidade intelectual. A igreja de Cristo estava escondida, mas na reforma protestante ela saiu para mostrar a sua face ao mundo, para dar a sua vida pelo evangelho.

Defender as atitudes pecaminosas de um homem e atribuir seus erros à vontade de Deus é idolatria e rebelião. Os adeptos da LUTEROLATRIA e da CALVINOLATRIA atribuem a violência dos reformadores no mundo pós reforma e dos religiosos de cada época à vontade arquitetada e planejada por Deus (para sua glória - segundo eles), não podem admitir o livre-arbítrio dos homens, se o fizerem seus heróis obrigatoriamente assumirão o posto de vilões, do mesmo modo que Saul, o primeiro rei de Israel que vestia de escarlata as filhas do seu povo perdeu o rumo e acabou a sua carreira como inimigo do projeto de Deus.

Enquanto os reformadores foram fiéis ao projeto bíblico verdadeiro eles foram um poderoso instrumento nas mãos do Senhor. Depois cada um seguiu o seu próprio caminho, defendendo a prática da violência. Esta atitude gerou a perseguição e o assassinato de milhares de anabatistas, os quais sucumbiam pelas mãos dos luteranos e dos calvinistas por rejeitarem o batismo infantil, importado da igreja católica pelos reformadores.

Não nos cabe julgar segundo a aparência a vida dos reformadores, todavia podemos julgar biblicamente as suas atitudes e descartar aquilo que não serve de exemplo para a vida cristã digna na presença de Deus, conforme o próprio Cristo nos orienta (João 7:24). Seguiremos o exemplo daqueles homens naquilo que eles agradaram a Deus, mas descartaremos o erro de elogiar os terríveis pecados de cada um deles e a idolatria de atribuir tais pecados à vontade de Deus. Isto não combina com o evangelho de Cristo. Com o evangelho dos homens pode até combinar.

Uma leitura honesta da história faria com que os líderes dos sistemas religiosos errassem menos no tocante à governabilidade e à legitima hierarquia cristã prevista no novo testamento. Infelizmente em lugar daquela legitimidade bíblica utiliza-se o bullying eclesiástico e a teologia do medo. Muitos dos sistemas religiosos ditos evangélicos estão permeados de escândalos, abuso de poder eclesiástico e falta de transparência nos negócios financeiros, além das terríveis distorções no texto sagrado. Demas realizou a obra de Deus de forma notável até ao dia em que resolveu deixar de ser crente - O apostolo Paulo reclamou disto (2 Timóteo 4:10). Que sejamos crentes, e que possamos copiar as coisas nobres que os reformadores fizeram e que saibamos também descartar seus maus exemplos (naquilo que erraram), afinal o nosso unico e perfeito modelo é Cristo e aquilo que ele ensinou!

A idolatria dos nossos dias vai muito além da adoração aos ídolos do mundo gospel.

Que Deus nos abençoe e nos ajude a buscar novas reformas...


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 "Christians and Jews: A Declaration of the Lutheran Church of Bavaria", November 24, 1998, also printed in Freiburger Rundbrief, 6:3 (1999), pp.191-197. É bem conhecido o discurso de Hitler, nos meios neo-luteranos, em que faz reverência a Lutero:"Luther war ein großer Mann, ein Riese. Mit einem Ruck durchbrach er die Dämmerung, sah den Juden, wie wir ihn erst heute zu sehen beginnen". (Lutero foi um grande homem, um gigante. Com uma pressão ele partiu ao meio o Crepúsculo; ele viu os judeus do modo que hoje começamos a ver).
2 Adolf Hitler: Mein Kampf, p. 213.
3 O lado B do calvinismo em Genebra - Dave Hunt (►Confira Aqui)
4 Genebra Calvinista: Violência e "santidade forçada" (►Confira Aqui)
5 As Cinzas dele clamam contra João Calvino - Dan Corner (►Confira Aqui)

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